Introdução
O governo federal apresentou recentemente uma proposta que visa diminuir os juros para o financiamento de determinadas culturas agrícolas no âmbito do Plano Safra. Essa iniciativa surge como um possível alívio para o setor, que enfrenta desafios relacionados a custos e instabilidade. No entanto, é crucial analisar se essa medida, por si só, é capaz de solucionar os problemas enfrentados pelos produtores rurais.
O Alcance Limitado da Redução de Juros
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, indicou que a intenção do governo é oferecer taxas de juros reduzidas para culturas como arroz, feijão e hortifrutigranjeiros, visando estimular a produção e, consequentemente, diminuir os preços para o consumidor final. Embora a redução do custo do crédito para essas culturas de ciclo curto possa gerar um aumento da oferta a curto prazo, setores com ciclos produtivos mais extensos, como pecuária e culturas perenes, não sentirão um impacto direto significativo, uma vez que o efeito dos juros menores se dissiparia ao longo do tempo.
A Contradição da Política Econômica
Curiosamente, a proposta de redução de juros surge logo após o Banco Central elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano, o que, em contrapartida, eleva o custo do crédito rural em geral. Esse aumento pressiona as linhas de financiamento com juros livres e diminui a margem fiscal para subsídios ao crédito rural dentro do Plano Safra. Em outras palavras, o governo busca mitigar o custo do financiamento para alguns setores, enquanto, simultaneamente, a política econômica vigente contribui para o encarecimento do crédito no agronegócio como um todo.
O Papel Fundamental do Seguro Rural e da Previsibilidade
No setor agropecuário, o acesso ao crédito é apenas um dos componentes da equação. Investir em um setor inerentemente sujeito a riscos exige previsibilidade. É nesse contexto que políticas de longo prazo, como o Seguro Rural, se mostram ainda mais relevantes. Apesar de ser um instrumento crucial para proteger o produtor contra eventos climáticos adversos e flutuações de mercado, o Seguro Rural permanece com financiamento insuficiente e cobertura restrita. Sem um seguro robusto, o risco do investimento se eleva, e taxas de juros menores, por si só, não são suficientes para incentivar o produtor a ampliar sua produção.
A Necessidade de Soluções Abrangentes
A proposta de juros mais baixos para determinadas culturas é, inegavelmente, um progresso, principalmente considerando as medidas equivocadas anteriormente cogitadas. Contudo, essa iniciativa não resolve a questão estrutural do agronegócio no Brasil. O produtor rural necessita de um ambiente econômico estável e previsível, com políticas que assegurem acesso a crédito em condições sustentáveis, proteção contra riscos climáticos e uma infraestrutura logística que permita o escoamento eficiente da produção.
Próximos Passos
Sem uma abordagem holística que considere esses fatores, qualquer intervenção pontual será apenas um paliativo, incapaz de solucionar os desafios concretos do setor agropecuário. É preciso ir além de medidas isoladas e construir um cenário de estabilidade e confiança para o produtor rural.