
Introdução
A cada ano, parece que retornamos aos mesmos debates, e em 2025, novamente, o foco é o aumento do custo dos alimentos. É claro que, além dos problemas climáticos e da desvalorização da moeda nacional, entre outros fatores, sempre surge uma maneira de questionar o papel da agricultura e do produtor nesse contexto, como se, de alguma forma, eles também fossem os responsáveis por essa elevação de preços.
Entendendo o Mercado Pecuário e seus Ciclos
A propósito, este foi um tema recentemente abordado pelo Farmnews. Discutimos os fundamentos do mercado de gado de corte, o comportamento cíclico de longo prazo dos preços do boi gordo e seu impacto no aumento do preço da carne bovina. Enfatizamos a importância de compreender o ciclo de preços da pecuária para entender a dinâmica dos preços da carne e seu reflexo na inflação dos alimentos. Clique aqui para saber mais sobre o assunto!
A Nova Fase de Alta nos Preços e a Ausência de Debate Público
E falando em ciclo, sim, estamos mais uma vez entrando em uma fase de alta nos preços do boi gordo, após um período de perdas significativas que, aliás, não recebem a devida atenção da mídia ou não são amplamente discutidas nos meios de comunicação. Afinal, as perdas financeiras dos produtores não afetam a popularidade do governo. E é exatamente por isso que estamos aqui, para reforçar que, além de não haver uma solução rápida e imediata para o problema, o setor precisa de segurança para investir, produzir mais e prosperar. E será que, neste início de um ciclo de alta de preços, que teoricamente incentiva o investimento no setor, o pecuarista se sente confiante para isso?
A Postura Governamental e o Descaso Percebido no Setor Agropecuário
A recente abordagem do governo em relação ao aumento dos preços dos alimentos revela um problema que vai muito além do discurso. Como bem observou o jornalista Carlos Andreazza, a principal ação do governo até o momento tem sido o silêncio e a ausência de notícias negativas – algo que, em um cenário de crise, parece ser o máximo que se espera. No entanto, quando se trata do agronegócio, que sustenta a balança comercial brasileira (clique aqui) e garante o alimento na mesa dos brasileiros, esse silêncio soa como negligência. O que resta ao produtor rural, que já enfrenta alta inflação, juros elevados e um dólar pressionado? É o produtor quem sente no bolso a falta de crédito, os custos de insumos dolarizados e uma logística precária que encarece cada saca de grãos colhida. Além disso, ele, como qualquer outro brasileiro, também enfrenta os desafios de ser consumidor em um país que não oferece soluções estruturais para conter o aumento dos preços.
A Urgência de Planejamento e Políticas Públicas Eficazes
O produtor rural, que já carrega o peso de manter o Brasil como uma potência agroexportadora, agora percebe que, além de plantar e colher, precisa lidar com a insegurança de políticas públicas que parecem mais preocupadas em “não criar crises” do que em resolver os problemas reais. Afinal, como destacou Andreazza, a desconfiança permeia até mesmo as próprias propostas do governo, que carecem de credibilidade e visão de longo prazo. A situação é como uma enchente que o governo tenta conter com baldes, enquanto o verdadeiro problema – a falta de planejamento – continua ignorado. Desde 2023, organizações como a CNA têm alertado para os desafios que afetam o campo, seja a falta de um planejamento consistente, o aumento dos custos de produção, a ausência de políticas para o Seguro Rural ou, ainda, os gargalos logísticos que elevam os custos de transporte. Esses desafios não prejudicam apenas o produtor, mas também o consumidor final. A lógica é simples: um agronegócio forte é um Brasil forte. Quando o produtor não tem acesso ao crédito, quando os custos continuam subindo e quando faltam políticas públicas sólidas, a consequência é sentida no supermercado. É o campo e a cidade pagando o preço pela ausência de planejamento.
Próximos Passos
Medidas emergenciais não resolvem, é preciso visão de longo prazo. O Brasil precisa de políticas que tragam equilíbrio e sustentabilidade para todos os elos da cadeia produtiva. Isso significa: investir em infraestrutura para reduzir os custos logísticos; oferecer crédito acessível e juros que não penalizem o produtor rural; incentivar a inovação tecnológica no campo; garantir segurança jurídica para o produtor, incluindo políticas sólidas para enfrentar crises climáticas. É fundamental lembrar que o produtor rural é, antes de tudo, um cidadão – um pai, uma mãe, um trabalhador que sente os mesmos efeitos da inflação que qualquer brasileiro sente. Ele também compra alimentos, também paga pelos mesmos preços altos, também enfrenta os desafios econômicos do país. O agronegócio não é uma ilha. Ele é parte da solução, mas não pode carregar sozinho o peso de uma economia inteira. O governo precisa fazer mais do que evitar crises: precisa mostrar que tem planejamento, compromisso e coragem para enfrentar os problemas de frente. Sem isso, continuaremos vendo as mesmas especulações, as mesmas medidas paliativas e, no final, a mesma conta sendo paga por quem produz e consome. Fabrício Peres estreia a coluna ESG no Farmnews apresentando os impactos da nova regulamentação na Europa para os produtos do agronegócio. Afinal, como essa nova política pode impactar a exportação dos produtos do Brasil? Clique aqui e confira! Clique aqui e receba os estudos do Farmnews pelo WhatsApp!